Fui criado no alto da serra
Onde tudo era sossegado
Quando o Sol surgia no horizonte
Só se ouvia o mugir do gado
Eu tocava meus bois pro curral
O carro estava carregado
Com quatro juntas de boi bão
Em fileira eu punha encangado
Com cinquenta sacos de café
O meu carro cantava cortando o cerrado
Quando o tempo estava pra chover
Eu cobria a carga com encerado
Ao passar nas lamas da baixada
Sem que o carro ficava atolado
Eu gritava o nome dos bois
Logo via cambões esticados
Muitas vezes quebrava o canzil
De reserva eu tinha guardado
Sempre fui carreiro caprichoso
Perto ou longe eu ia preparado
Um facão de vinte polegadas
No fueiro eu tinha pendurado
Minha vara de guatambu
E o ferrão era bem niquelado
A madeira que faço o chumaço
Canta grosso e bem duetado
O cocão faço de cabreúva
Que tem tempo para ser cortado
Desse pau eu faço o cabeçaio
A chega e o eixo e outros conjugado
O chifre cheio de azeite
No meu carro sempre pendurado
Pra passar no chumaço e no eixo
Pra evitar que seja queimado
Quando fala o carreiro da serra
Em qualquer canto do meu estado
Logo vem na memória do povo
Que por lá eu já tinha passado
Toda gente que por mim cruzava
Eu arrespeitava e era respeitado